Entenda por que o mercado está reavaliando o que significa crescer, e como empresas com visão de longo prazo estão se tornando referência em geração de valor.
Durante muito tempo, crescer rápido era sinônimo de sucesso. No auge da era das startups e do capital de risco abundante, valuation e crescimento andavam lado a lado. Mas esse cenário mudou, e com ele, o que o mercado valoriza.
Nos últimos anos, o foco dos investidores se deslocou de crescimento acelerado para crescimento rentável e sustentável. Agora, empresas são analisadas não apenas pelo quanto expandem, mas por como conseguem gerar valor e retorno no longo prazo.
Essa mudança de perspectiva marca uma inflexão importante na forma como organizações, principalmente as de base tecnológica, são avaliadas e geridas.
Crescer continua sendo essencial. A diferença é que, hoje, o mercado quer entender se esse crescimento é de fato capaz de se converter em valor.
Entre 2020 e 2021, em meio à euforia do mercado digital, valuations chegaram a patamares históricos. Startups e empresas de tecnologia eram precificadas com base em múltiplos de crescimento e projeções otimistas, muitas vezes desconectadas da geração real de caixa.
A reversão começou em 2022, quando o cenário macroeconômico trouxe juros altos, capital mais escasso e maior aversão ao risco. O resultado foi uma reprecificação generalizada — e um novo conjunto de critérios para avaliar empresas.
Hoje, o valuation está muito mais relacionado à eficiência de capital, previsibilidade de receita e capacidade de execução. A valorização depende de fundamentos sólidos, e não apenas de promessas.
O mercado deixou de premiar apenas quem cresce. Passou a valorizar quem cresce com rentabilidade e consistência.
Para empresas de tecnologia, esse novo paradigma exige uma mudança profunda. O modelo baseado em expansão a qualquer custo, impulsionado por rodadas sucessivas de investimento, está sendo substituído por uma lógica mais disciplinada.
Negócios que antes priorizavam aquisições e marketing agressivo agora buscam eficiência operacional, redução de churn e aumento de lifetime value.
Essa transformação já se reflete no comportamento das companhias listadas em bolsa. O múltiplo médio de receita (EV/Revenue) das empresas SaaS, por exemplo, caiu de cerca de 15x em 2021 para menos de 6x em 2024, um sinal claro de que o mercado ajustou suas expectativas.
Empresas que demonstram controle de custos, estabilidade de receita e previsibilidade de resultados são as que hoje atraem mais confiança dos investidores.
O valuation de uma empresa é, em última análise, o reflexo da sua capacidade de gerar caixa futuro. Isso exige planejamento estratégico de longo prazo, alocação eficiente de recursos e foco em resultados consistentes, não apenas em metas trimestrais.
Na prática, isso significa:
Empresas que enxergam o crescimento como consequência, e não como ponto de partida, tendem a construir valor mais sólido e duradouro.
Se antes a tecnologia era apenas um diferencial competitivo, hoje ela é o principal vetor de criação de valor. Modelos de negócios baseados em dados permitem decisões mais precisas sobre precificação, realocação de capital e gestão de risco.
Empresas que utilizam analytics e IA para otimizar operações, prever demanda e reduzir desperdícios conseguem resultados mais previsíveis, um ativo cada vez mais valorizado em mercados voláteis.
Além disso, a tecnologia viabiliza crescimento orgânico com margens maiores, reduzindo dependência de fusões, aquisições ou capital externo.
Eficiência e tecnologia são hoje os novos multiplicadores de valuation.
Outra prática que diferencia empresas de alto valor é a realocação inteligente de capital. Líderes que revisam continuamente onde e como investir seus recursos conseguem ajustar o foco de crescimento sem comprometer a rentabilidade.
Em vez de manter portfólios inchados, empresas de alta performance desinvestem em negócios de baixo retorno e redirecionam capital para áreas com maior potencial de geração de valor. Essa agilidade estratégica é uma das principais marcas das companhias que conseguem prosperar em cenários incertos.
Gerir capital de forma dinâmica é tão importante quanto captá-lo. O que determina o valor é a capacidade de alocá-lo nas frentes certas.
O ciclo de euforia e correção que o mercado viveu nos últimos anos trouxe uma lição definitiva: valuation é consequência, não estratégia.
Empresas que constroem valor sustentável entendem que o crescimento precisa ser equilibrado entre ambição e disciplina, e que o verdadeiro diferencial competitivo está em manter coerência entre visão, execução e resultado.
Em um ambiente em que o capital é mais seletivo e a volatilidade mais alta, pensar no longo prazo não é apenas uma escolha, é o que separa as empresas que permanecem das que desaparecem.